sábado, 14 de junho de 2008

(Ainda dodói. Mas pelo menos já consigo sentar na cama!)

RUMO A UMA CIVILIZAÇÃO PLANETÁRIA
(Ainda dodói. Mas pelo menos já consigo sentar na cama!)
O período mais perigoso para o ser humano são os primeiros meses de vida, quando a transição para o ambiente externo, potencialmente hostil, submete o bebê a enormes pressões biológicas, energéticas e de adaptação. No entanto, após o primeiro ano de vida, a taxa de mortalidade cai enormemente. De maneira similar, o período mais perigoso para nossa civilização é o primeiro século depois que ela alcançou a capacidade nuclear.
Quando nossa civilização descobriu o elemento 92 (uránio), em meados do século passado, subitamente tornamo-nos capazes de libertar nossa espécie da pobreza, da ignorância e da fome. Mas também, noutro espectro de probabilidade, nos tornamos capazes também de transmutar o planeta em cinzas nucleares. De repente, tomamos consciência dos perigos que ameaçam nossa existência, tal qual uma criança que aprende a andar.
A analogia de nossa civilização com uma criança é conveniente. Como espécie, somos semelhantes a uma criança mimada, incapazes de controlar nossas explosões de raiva auto-destrutivas, sendo assombrados por antigos ódios sectários, fundamentalistas, nacionalistas e raciais que macula(ra)m nossa história imatura. Como civilização, somos profundamente divididos por fraturas criadas há milênios. Como sociedade, estamos sendo fatalmente dilacerados por nações briguentas, invejosas e estado-cêntricas, e profundamente divididos por linhas raciais religiosas e nacionais. Mal cuidamos de nossas necessidades energéticas e de nossa própria alimentação. Do espaço, apresentamos apenas algumas poucas manchas turvas de pálidos pontos de luz, e – não podemos esquecer – ainda se morre de fome no planeta.
Não deveríamos ter descoberto o elemento 92. Ainda. Tal poder só poderia ser liberado quando nós, como espécie inteligente que somos, tivéssemos atingido um nível de desenvolvimento industrial e uma unidade social coesiva planetários. Nossa tecnologia não deveria ter ultrapassado o desenvolvimento social. Em algum momento do século passado, ocorreu um grave descompasso, rompendo o equilíbrio delicado que existia entre o crescimento lento e estável da unidade social coesiva e seu desenvolvimento tecnológico. A pobreza, a ignorância, a fome, o ódio, a poluição e todos nossos demais erros como espécie são fruto de uma política planetária não coordenada, para não dizer inexistente. O poder para refrear e por fim eliminar este verdadeiro catálogo de males reside numa política global, cuja aplicação é difícil, se não impossível, enquanto a unidade social coesiva dominante for o Estado-Nação, composto por apenas algumas centenas de milhões de pessoas, mal distribuídas em centenas de nações hostis entre si.
Explico: as medidas necessárias para corrigir, nos curarmos dessas doenças da civilização, exigem um extraordinário grau de cooperação entre os povos e as nações, um grau de cooperação muito maior do que o existente entre os estados da nossa federação, por exemplo. Em outras palavras, o planeta como um todo deveria funcionar de maneira mais eficiente que a mais eficiente nação do planeta. Teríamos que ser, todos nós juntos, uma hiper-nação, um Estados Unidos da Terra. Ou uma Suiça Planetária.
Organizados e agregados na ordem de bilhões, e com uma excepcional estabilidade política, poderíamos explorar nossa capacidade nuclear de maneira responsável, juntamente com todos nossos recursos planetários, numa sinergia que hoje não passa de um sonho.
A organização social necessária para tanto, tem que ser muito complexa e avançada, senão a tecnologia não pode ser desenvolvida. Ao mesmo tempo - e de maneira paradoxal - tem que ser simples, do contrário criam-se linhas de fratura na sociedade.
Com uma unidade social coesiva correspondente a toda a população de nosso planeta, aos poucos serão eliminadas antigas barreiras sociais, culturais e nacionais que muitas vezes foram causadoras de grandes guerras, e as divisões e cicatrizes que marcam e afligem nossa civilização se desvanecerão em história com o advento da abundante riqueza material e recursos energéticos. Só uma civilização desse tipo pode verdadeiramente tomar decisões que afetam o fluxo de energia e recursos de todo o planeta.
Para chegar nesse grau de coesão, teremos que desenvolver um sistema de comunicação planetário, uma cultura planetária e uma economia planetária. E também teremos que ter sinergia e fecundação cruzada nas mais diversas áreas científicas, tecnológicas e até culturais.
Nações inteiras, ONG’s, entidades assitênciais e o voluntariado já criaram dezenas de milhares de projetos energéticos e sociais no mundo. Se todo esse investimento pulverizado e se todas as doações do mundo fossem reunidas de uma maneira que se evitassem superposições, e a burocracia substituída pela adhocracia, o produto mundial bruto e o consumo mundial de energia do planeta cresceriam 130 vezes. Com o subsidio dos governos do mundo (que poderíam cobrar um imposto sobre compras online), poderíamos ter celulares de graça e notebooks para todas as crianças do mundo (ambos com WiMAX, a tecnologia que possibilita internet sem fio, liberada e ilimitada). Com um programa como o Skype ou MSN, a sociedade inteira – cada cidadão do planeta - estaria ligada por comunicação instantânea, podendo falar e se ver a vontade, sem pagar nada. A abundante riqueza material e energética seria tão grande que, em apenas alguns anos (não décadas), viabilizaríamos a escola em tempo integral para todas as crianças do mundo, e de quebra, acabaríamos com a fome no planeta.
As realizações econômicas, técnicas e científicas podem superar tudo que é remotamente concebível no momento por um fator de mais de cem. Regiões inteiras do mundo, hoje miseráveis bolsões de miséria, estarão industrializadas. A riqueza nunca será distribuída de maneira equitativa, mas as paixões e ódios que inflamaram povos e revoluções no passado declinarão gradualmente, à medida que as pessoas se tornarem mais ricas e tiverem maior envolvimento com o sistema (um meta-governo wikicrático).
Mas, temos algum indício de que alguma coisa parecida com essa realmente vai acontecer? Onde estão as tendências centrífugas que nos levarão a uma sociedade planetária? O teórico Michio Kaku enumera cinco frentes, concomitantes e ao mesmo tempo sequenciais:
1) O desenvolvimento de uma língua global comum
2) O surgimento de uma economia mundial
3) A ascenção de uma classe média internacional
4) A elevação de uma cultura planetária
5) O fim da era das nações
A tendência 1 e 2 dispensam comentários. O inglês já é a língua mais falada do mundo hoje, e quem não o domina está em séria desvantagem competitiva. Já a globalização não deixa dúvidas de que veio para ficar. No decorrer das próximas semanas, estaremos aprofundando o debate sobre as tendências restantes.

No final das contas, se nossa civilização alcançar um sistema político planetário, talvez tenhamos superado o pior.

Beijos no coração de todos. Até segunda (porque eu também sou filho dEle!)

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