segunda-feira, 31 de maio de 2010

ATÉ ONDE DEVE IR NOSSA IMPARCILIDADE JORNALÍSTICA?

Até onde pode ir a imparcialidade jornalística? Até onde, eu ou você, como jornalista, webjornalista ou apenas blogueiro, podemos ir, sem deixarmos de ser imparciais? Será que existe um limite entre a realidade dos fatos e o que é meramente aceitável? Creio que sim, mas esse limite é tênue, e vive sendo ultrapassado, tanto aqui, como acolá, ao sabor do vento ideológico. Comigo também acontece isso, mas devemos ter um certo cuidado profissional: nossas crenças, torcidas ou lado não devem interferir em nosso juizo moral, no julgamento do que é certo, ainda que em detrimento daqueles ou daquilo que acreditamos. Darei três exemplos: um brasileiro, um israelense e um pessoal:

No Brasil o Itamaraty faz o que quer com a imprensa nacional. Repetidos fracassos diplomáticos são cantados em verso e prosa como vitórias esmagadoras e sucessos retumbantes por jornalistas que deveriam ao menos analisar os fatos e ponderar concusões, em vez de simplesmente sair por aí fazendo editoriais pautados pelo Ministro das Relações Exteriores, o senhor Amorim. A carta "vazada", por exemplo, era um dos muitos documentos que o governo americano entregou ao governo brasileiro provando que o Irã está enriquecendo pelo menos uma tonelada de urânio para fabricar uma bomba atômica. E o que a imprensa tupiniquim fez? Tapou os olhos e os ouvidos, e noticiou que o governo americano simplesmente estava com "ciumeiras", omitindo fatos em descarada tentativa de manipulação do público interno.

Segundo exemplo: um comboio turco invadiu águas israelenses e, depois de advertidos pela marinha de Israel a retornarem para águas internacionais, desobedeceram a ordem e provocaram atos violentos contra uma força legitimamente interessada em defender apenas seus interesses nacionais. O que era uma simples advertência diplomática acabou virando uma operação policial. Atacados com barras de ferro, facas e tiros, Israel apenas revidou, defendendo seu território, matando cerca de 10 pessoas. As que morreram foram justamente aquelas que tentaram tirar armas das mãos dos oficiais israelenses. O governo ainda informou que, após uma verificação rotineira de segurança, a carga será enviada ao seu destino (Gaza), pelos meios autorizados. O governo da Turquia não soube explicar porque a carga (suprimentos humanitários, segundo fontes turcas) não foi mandada legalmente, pelo território israelense, que exerceu um bloqueio naval à Gaza desde 2007, quando o grupo terrorista Hammas assumiu o controle da região. Pois bem. Esses são os fatos. O que a imprensa internacional repercute? De que um "ataque israelense" a um "comboio humanitário"matou mais de 30 "ativistas". Enquanto o mundo reage ao que a imprensa anti-sionista declara, cabe aqui uma pergunta: o que fariam esses bravos países se seu território fosse invadido, e seus invasores atacassem suas defesas? Entregariam flores?

Ultimo exemplo: a cerca de quatro anos, entramos, eu e mais 5 jornalistas, secretamente, em uma região do Oriente Médio, um território proibido (não digo o local, por motivos óbvios). Meu objetivo: saber como era a vida de "cristãos novos": judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo. Perseguidos por membros da família e autoridades, irmãos em Cristo, outrora inimigos mortais, vivam agora espremidos em casas fétidas, perseguidos por quem deveria protegê-los. Convertidos perdiam seus empregos, suas casas e, em último caso, eram decapitados quando descobertos. Seu único pedido: morrer segurando um pedaço de uma página da Bíblia nas mãos. Testemunhei incontáveis surras, três mortes por desnutrição e uma decapitação nas duas semanas que passei lá. O máximo que conseguimos de notícia a respeito desses acontecimentos, horrosos em todos os aspectos, foi uma nota de rodapé no frequentemente crítico Haaretz, e olhe lá! Ainda vou escrever um livro sobre o assunto: só temo não ter leitores para lê-lo, pois ou estarão todos mortos ou impedidos de ler!

Nas três situaçõe exemplificadas, o fato foi distorcido, diminuído ou silenciado. Nas três situações, editoriais foram travestidos de torcedores, e seus jornalistas passaram a se comportar como torcida. Nossa imparcialidade só nos serve se não comprometer nosso juízo de valor, senão a descartamos. Em nome da imparcialidade, não vou querer saber a opinião de traficantes sobre a descriminalização da droga; Em nome da imparcialidade, não devo ouvir assassinos sobre suas opiniões a respeito da pena de morte. Minha consciência é meu juiz, e à ele devo me curvar, não à imparcialidade.

Sobretudo, não distorça fatos. eles são tudo, para um jornalista. O fato é o seu senhor, não o contrário.

Até onde pode ir nossa imparcialidade jornalística? Minha resposta: Até onde ela não ameaçe seu juizo moral. Tenha sempre uma opinião, mas sempre tenha também a capacidade crítica de julgá-lo, imparcialmente. Sua imparcialidade deve servir à sua consciência, e não o contrário!

Saudações!

J

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