domingo, 23 de maio de 2010

O METAJORNALISMO E OS FENÔMENOS TRANSMIDIÁTICOS

Para que serve o jornalismo? Nos países ditos civilizados, essa pergunta pouco é feita, pois a resposta está onipresente, entranhada na cultura popular e profissional da sociedade. Já nos países onde a democracia é emergente e nos países onde a repressão à liberdade é brutal, essa pergunta só tem uma resposta: ação. O jornalismo serve para construir a comunidade, a cidadania, a democracia. No Irã, tivemos ano passado a chamada “revolução do twitter”, com milhões de iranianos, estimulados pelo livre fluxo da informação dos microblogs, participando de forma direta das eleições, reivindicando legitimidade da vontade popular, enquanto em outros países, os cidadãos participam ativamente na criação de um novo governo e novas normas para a vida política, social e econômica de seus países. Nestes últimos, nada mais do que um elemento cultural em suas vidas; nos primeiros, um verdadeiro fenômeno midiático de resgate de valores. Mas será sempre essa a finalidade maior do jornalismo? Ou isso vale apenas para um determinado momento, num determinado lugar?

A simples resposta não é mais suficiente, ainda mais numa época em que as novas tecnologias de comunicações permitem a qual¬quer pessoa proclamar que está "fazendo jornalismo". Não agora que a tecnologia criou uma nova organização económi¬ca no jornalismo, na qual as regras do ofício são espanadas e redefinidas, e às vezes até abandonadas. Num mundo onde a cacofonia da web é ensurdecedora, onde encontrar a informação correta? E de que maneira você, como jornalista, poderá ser ouvido?

Cito um exemplo: enquanto no mundo inteiro a imprensa internacional repercurte o desastre das negociações do Irã, a imprensa tupiniquim ecoa esse último fracasso da diplomacia lulo-petista como uma luta dos “emergentes” contra os Big Five do Conselho de Segurança, transformando um vexame internacional numa vitória diplomática. Deixar-se pautar por um dos lados de um fenômeno midiático sem levar em consideração o contraditório e as considerações externas ao fato, ignorando as ponderações óbvias em questão tem nome: chama-se ADESISMO, e não há reforma gráfica ou editorial que lhe confira nova aparência, senão a que vemos, na imprensa internacional. O adesismo é a maneira mais fácil de um jornalista de não ser levado à sério na categoria profissional.

Por quê? Considere o seguinte: está o mundo todo errado e somente os brasileiros certos? Se a resposta é óbvia, convem investigarmos outra questão: o que faz com que a imprensa nacional pense o contrário? Por acaso se os Aiatolás atômicos tivessem acertado o acordo junto com a troca de urânio, a mídia brasileira pautaria o texto “Emergentes X donos do Poder”? Se o fracasso nas negociações é visto como vitória da Administração Da Silva, como seria visto um sucesso diplomático? Que imparcialidade virtuosa é essa, que trata o governo com a mesma condescedência com que uma mãe-coruja, cega de amores, trata um filho-problema? Ou existem ingênuos nas edições que caem na conversa de Celso Amorim ou existem chapa-brancas que dedicam-se à sua prestação de serviços...

A principal função do Jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar (Kovach & Rosenstiel). Se você, jornalista ou estudante de jornalismo, tem, em seu estágio ou na editora de jornal onde trabalha, ou mesmo em seu blog particular, fornecido informações que conduzem seus eleitores à liberdade, autoconsciência e pensamento crítico, então você tem todas as armas necessárias para mudar a imagem que o mundo tem da imprensa nacional.

Se pudesse dar algum conselho aos estudantes de jornalismo, diria: crie um blog! Coloque lá suas impressões a respeito das aulas e suas aplicações práticas. Transforme-o num espaço para uma amistosa troca de idéias e informações entre estudantes de jornalismo, comunicação e profissionais da área. Indague-se sempre: que contribuição posso dar, como jornalista, ao fenômeno midiático X, ou Y? Não seja provinciano: esboce suas opiniões em inglês, para que você seja ouvido no mundo. Não seja monotemático: fale sobre tudo e todos, e tenha opiniões formadas sobre os mais diversos fenômenos midiáticos, desde o último vencedor do Big Brother até a última rodada de negociações da AIEA. Não se preocupe em especializar-se num determinado assunto. Haverá esse momento, mais tarde, mas não agora, que você está aprendendo. Torne seu blog um ponto de encontro para outros estudantes da área. Acima de tudo, seja crítico, mas não contra-crítico. Não deixe que lhe pautem, mas crie sua própria pauta. Fazer isso bem chama-se metajornalismo.

Discutir o metajornalismo tem sido o melhor caminho para o sucesso profissional para os estudantes que almejam conseguir um espaço no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que mostra sua competência e seu compromisso em transmitir a verdade, independente do ponto de vista ou de visão ideológica.

Boas pautas!



Algumas excelentes sugestões de leitura para os estudantes que estão se aventurando na área:

O mundo dos jornalistas: http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=lang_pt&id=kT5gjigG6usC&oi=fnd&pg=PA11&dq=jornalismo+televis%C3%A3o+&ots=tZvW-kIjGY&sig=JpabFxYv5Q0i81BCWveqn7LwMsU#v=onepage&q=jornalismo%20televis%C3%A3o&f=false

Juventude e comunicação: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000144.pdf#page=39

Max Webber e a Mídia: http://www.bocc.uff.br/pag/bocc-max-weber-selias.pdf

Webjornalismo participativo e a produção aberta de notícias: http://www6.ufrgs.br/limc/participativo/pdf/webjornal.pdf

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